“A hora é de trabalho, de vencer desafios”


Publicação: 17 de Abril de 2011 às 00:00
Anna Ruth Dantas
repórter
Líder do PMDB na Câmara dos Deputados e presidente estadual do partido, o deputado federal Henrique Eduardo Alves enaltece os avanços recentes para dois dos projetos do Rio Grande do Norte - a Copa do Mundo de 2014 e o Aeroporto Internacional de São Gonçalo -, critica o debate “precipitado” sobre eleições de 2012 e 2014 e convoca a classe política potiguar para se unir em defesa dos interesses do RN. Para o parlamentar peemedebista, as discussões sobre eleições entravam a própria unidade da classe política por projetos administrativos. “A gente tem que se unir e esquecer eleição e não ficar preocupado se vai gerar ou não aliança política, isso aí a gente deixa para época própria da política eleitoral e cada um que avalie o que é melhor para o seu partido”, analisa.


Contundentes, as críticas do deputado federal Henrique Eduardo também são dirigidas aos gestores municipais e estadual. Para ele, é preciso integrar ações, programas conjuntos, como é caso do turismo, do trabalho de combate à dengue, do projeto de integração do transporte.

Em meio a declarações da política administrativa, o deputado federal Henrique Eduardo Alves foi questionado sobre a política partidária e eleitoral, tanto de 2012 como de 2014. Foi cauteloso, ponderado e sucinto: “Convoco o Rio Grande do Norte para deixar a eleição que passou, não pensar na eleição que virá daqui a dois anos.”
Sobre os projetos administrativos e política 2012, o deputado federal Henrique Eduardo Alves concedeu a seguinte entrevista:
Como o senhor avalia essa nova fase do projeto do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante?
A grande notícia para o nosso Estado foi a consolidação do Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante. É um processo que se arrasta há 14 anos. Quero fazer justiça a todos que participaram dessa luta, a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso porque foi no  Governo Garibaldi Filho que ocorreu o primeiro passo. A partir dali todos tentaram viabilizar esse aeroporto com recursos da União, da Infraero. Ao longo do tempo foi se arrastando. E aí houve o grande gesto político da então ministra Dilma e do presidente Lula que tiveram coragem de quebrar o paradigma e tornar o aeroporto de São Gonçalo a primeira experiência, inovadora, única no Brasil, de aeroporto de carga e passageiro privado. Depois participei do enfrentamento com o pessoal do Rio de Janeiro e São Paulo que queriam essa modelagem para os aeroportos de lá. A ministra e o presidente foram de uma correção ímpar com nosso Estado, sensibilidade ímpar com o Nordeste brasileiro, quando disseram para os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro que a experiência inovadora, primeira, seria no Nordeste, no Rio Grande do Norte e em São Gonçalo. Se fosse abrir para o Brasil esse tipo de modelo, pela força de mercado esse investimento iria para São Paulo e para o Rio e no final da fila o Rio Grande do Norte. A tese prevaleceu, Graças a Deus e a eles (Dilma Rousseff e Lula), teremos  um aeroporto com  capacidade, no espaço de três anos, para 5 milhões de passageiros. É um investimento total de R$ 1 bilhão. R$ 250 milhões a R$ 300 milhões do Poder Público e o restante da iniciativa privada. Vai gerar mais de 20 mil empregos. Será um Rio Grande do Norte antes e depois do aeroporto.
alex régisENTREVISTA / HENRIQUE EDUARDO ALVES / Líder do PMDB
Mas o senhor acha que concluirá antes da Copa? O estudo do Ipea afirma que não será finalizado antes do Mundial.
Não tenho dúvida que será concluído antes da Copa. Antes as pessoas diziam que o aeroporto não iria sair. Agora todos acreditam que o aeroporto vai sair. Agora um documento do IPEA, que eu vou tratar disso depois da Semana Santa, afirma que o aeroporto não vai ficar pronto. Vai ficar pronto sim. A empresa que for assumir, ganhadora do consórcio, terá que assumir o compromisso, será a exigência de entregar no prazo de início de 2014. E é possível sim com uma boa cobrança e boa vontade. Ainda há algumas etapas a serem feitas. O ministro Valmir Campelo (do Tribunal de Contas da União), a nosso pedido, dividiu o processo do Aeroporto de São Gonçalo em três estágios. O de concessão, que é o mais importante, que dá o ponto de partida, esse nós já vencemos. Tem ainda o ambiental, que está caminhando muito bem, e o edital da construção. Se ele fosse juntar os três numa base só demoraria mais tempo. Então o ministro disse que iria separar e faria o da concessão primeiro, porque este dá início a todo processo.
Há previsão para início das obras?
Antes do final deste mês teremos o edital nas ruas com o preço mínimo de R$ 51,8 milhões para quem vai ser o ganhador desse processo novo, de uma concessão onerosa por 28 anos. Será o aeroporto que se transformará na porta do mundo para entrar no Brasil. Vamos inverter esse processo, de entrar por São Paulo e depois chegar aqui o passageiro ou a carga. Primeiro entrarão por aqui e depois se deslocarão para o Sul do país. Vamos mudar a fisionomia do Rio Grande do Norte.

O aeroporto entra em uma nova fase, ao mesmo tempo em que a Copa do Mundo de 2014 em Natal teve a ordem e serviço assinada...

É bom esclarecer que aqui ou acolá ouço declarações de que o Estado esteve perto de perder a Copa do Mundo. Pois digo que nunca o Estado do Rio Grande do Norte correu esse risco. Atrasos aconteceram, mas outras (sedes da Copa) estão mais atrasadas que a nossa, mas tudo dentro do prazo previsível e suportável. Não houve, em momento algum, risco de Natal deixar de ser sede da Copa do Mundo. Quem estiver usando esse discurso trate de mudar porque eu terei de contestar. Foi o projeto mais bem avaliado, foi a cidade mais bem avaliada, foram o clima, a amabilidade do povo, a cidade plana, a rede hoteleira que nos credenciaram. As obras serão feitas, o aeroporto complementa, mas nunca Natal deixou de ser sede da Copa do Mundo. A assinatura do contrato é importante.  No caso do Machadão acho que poderia ter sido feito um esforço para antecipar a demolição, poderia ter avançado nisso. Mas está tudo dentro do prazo e as coisas irão acontecer.

A sua influência junto ao Governo Federal parece trazer garantias de obras como o aeroporto.
Não é influência minha. Não é a força do deputado Henrique, tem muito aí a força do meu partido, do PMDB, é um partido que é forte na Câmara, forte no Senado, é o maior partido do Brasil e isso pesa na hora de decidir candidato junto ao Governo.

Mas o senhor é o líder do PMDB na Câmara dos Deputados?
Sim, mas isso é questão de interlocução. Mas essa é a força do partido e todos colaboraram. Essa luta foi do governador Garibaldi antes, da governadora Wilma, do governador Iberê, da governadora Rosalba agora. É um esforço de todos nós, coletivamente. Não há guerra, disputa de vaidade que seria algo muito primário e imaturo. Mas agora há outras etapas há vencer.

E no meio dessas etapas, eleições municipais. Isso atrapalha?
Acho que a questão de se colocar disputa para prefeito, pesquisa, isso está muito fora de época. O eleitor não quer saber disso, ele está pensando em outras coisas. O eleitor quer saber agora dos projetos, dos programas, como estão os resultados. Essa é a hora da união, independente da eleição daqui a dois anos. Nós temos desafios urgentes. As ZPEs (Zonas de Processamento Ambiental) são importantes que elas sejam consolidadas junto com o aeroporto. Tem também a questão do Porto de Natal. Nosso porto já está perdendo pela sua capacidade reduzida, perdendo para Pecém, Suape. Há um projeto muito bem feito pela Codern viabilizando um novo cais do outro lado do rio.

Mas um outro porto naquele local não traz uma discussão ambiental?
É verdade. Isso vai gerar uma polêmica de meio ambiente, mas precisamos discutir logo isso. Esse é um desafio urgente de toda bancada, governadora, é compromisso do Rio Grande do Norte com o seu futuro. Temos ainda a questão da BR 304, Natal-Mossoró. Nós já temos duplicado Fortaleza chegando a Aracati, se duplicarmos o braço Natal-Mossoró, faremos Natal-Fortaleza com muito mais proximidade. A produção será escoada mais rapidamente. Acho que é uma interligação importante para conseguirmos nessa luta comum, duplicar Natal-Mossoró. Temos outros desafios que é a qualificação da mão-de-obra. Esses eventos que irão ocorrer, os instrumentos que serão viabilizados temos que ter o aproveitamento da mão de obra daqui. Como será instalar essas empresas, esses equipamentos e virem trabalhadores da Bahia, do Rio de Janeiro, de São Paulo? Esse é o apelo que eu faço para o nosso jovem estar habilitado, preparado, para ocupar esse emprego. Só no nosso aeroporto de 25 mil empregos, 40% das empresas de aviação aérea irão se instalar no aeroporto aqui. Elas precisarão de funcionários que falem Inglês, Espanhol, Japonês, Francês, isso é um curso que leva dois ou três anos para fazer um curso de boa qualidade. Precisamos trabalhar essa garotada toda. Inclusive, promover curso de Informática, virão muitas empresas. Temos que gerar emprego, primeiro os nossos (trabalhadores locais), a qualificação precisa ser feita para que o cidadão possa ter o seu emprego, a sua renda e ajudar a gerar o desenvolvimento do Rio Grande do Norte.

Não é perigoso apostar o desenvolvimento do Estado apenas no aeroporto?
Tem também a questão da eólica. Estão investindo R$ 8 bilhões que pode ser muito mais e há um estudo ainda preliminar de poder fazer a eólica no mar. Temos um dos mais rasos (mares) do Nordeste. Então essa questão poderia ser viabilizada com um custo muito mais baixo porque não teria a compra do terreno e forçariam os terrenos a terem o preço mais. É uma opção que poderemos ter e favorecendo muito o Rio Grande do Norte. A eólica será um braço muito forte do nosso desenvolvimento.

“Temos que aproveitar o bom momento do país"

Embora o senhor esteja evitando falar de política, o que se percebe é uma proximidade do senhor com a governadora Rosalba Ciarlini. Seria uma proximidade administrativa que poderá se converter em aliança política?
Não votei na governadora Rosalba, votei em Iberê, não me arrependo. Conheço Iberê e ele mereceu meu voto, mas a eleição passou. Só queria que os políticos entendessem que a eleição passou. Quem ganhou, ganhou, quem perdeu que respeite. Desde primeiro de janeiro a governadora é Rosalba. Mesmo não tendo votado nela, quem teve a iniciativa de levá-la à presidenta Dilma para abrir as portas - e elas foram abertas - foi o deputado Henrique em uma audiência que foi importante pela postura da presidenta Dilma e pela postura da governadora Rosalba. Elas se afinaram, são mulheres administradoras com desafios, a partir dali (ele, Henrique Eduardo) quis mostrar à classe política e ao Rio Grande do Norte que nós temos que nos unir. O Ceará é conhecido pela sua briga com outros Estados, mas dentro se une como ninguém. Pernambuco mostrou como cresceu pelo que construiu. A Bahia está aí e nem Nordeste mais é por tanto crescimento que teve. Agora é a vez do Rio Grande do Norte. Com esse aeroporto, com as ZPEs, com o novo porto, com a energia eólica. A gente tem que se unir e esquecer eleição e não ficar preocupado se vai gerar ou não aliança política, isso aí a gente deixa para época própria da política eleitoral e cada um que avalie o que é melhor para o seu partido. Agora convoco a classe política para a gente dar as mãos e fazer a luta da unidade do Rio Grande do Norte. O Brasil está hoje em um bom momento, bons investimentos, recursos na infraestrutura, mas vão ter as prioridades. E no Nordeste a briga é terrível no bom sentido. Quem tiver maior força, e isso passa pela unidade, vai priorizar os seus projetos. Convoco o Rio Grande do Norte para deixar a eleição que passou, não pensar na eleição que virá daqui a dois anos. Se não acontece isso: você não se une com fulano porque ele pode ser prefeito daqui a dois anos, não dar as mãos porque pode se reeleger, se pensar nisso como fica cidadão que mora aqui e quer melhorias na educação, saúde, segurança, geração de renda? Não adianta pensar agora quem será prefeito, governador. Já vejo especulação de quem será o senador. Acho isso tão fora de propósito porque isso termina nos dividindo. Podem dizer que não, mas divide sim porque (pensando na política eleitoral) os encontros são rarefeitos, reuniões desmotivadas, cada um pensando se vai ajudar um adversário ou não. Isso é um grave erro que aqui eu quero evitar que ocorra. É hora de deixar a eleição que passou e a eleição que vem e fazer o presente do Rio Grande do Norte.

Embora o sr. diga isso, o PMDB já disse que vai lançar candidato próprio a prefeito de Natal.
Isso é um conceito partidário. Não é definição de candidatura e nem dizer quem será o candidato. É um conceito que vai prevalecer em todos os partidos. Há muitos anos não temos candidato a prefeito de Natal. Como conceituação o partido decidiu que onde há eleição em cidades maiores é obrigatório ter candidato a prefeito.

O deputado Hermano Morais é o nome do PMDB para disputar a Prefeitura do Natal?
Se estou condenando a antecipação de candidatura não vou cometer esse erro (de falar sobre candidatura). O deputado Hermano é qualificado, mas vamos deixar para depois a questão eleitoral. Agora estou preocupado com o projeto para desenvolver, para libertar o Rio Grande do Norte.

Mas ainda insistindo um pouco sobre política, o seu nome é citado como provável candidato a senador. Seria o seu caminho em 2014?
Esse assunto é fora de pauta. Se eu pensar nisso, é da pessoa humana quem é que será meu concorrente daqui a quatro anos aí já começa a ver a pessoa diferente. Isso não é bom para o Estado. O cidadão se você perguntar na próxima eleição ele até se irrita. A obrigação de quem se elegeu é cumprir agora o seu projeto.

Então o senhor reprova candidato que já está defendendo candidatura?
Acho equivocado. Respeito as diferentes visões, é hora de organizar partido sim, é permanente, atualizar. Agora colocar como principal ponto a questão da eleição daqui a dois anos não. É hora de dar as mãos. Como vou dar as mãos com sinceridade pensando em eleição? Temos que ser todos iguais na luta igual pelo Rio Grande do Norte. Dou um exemplo claro e faço até um apelo à governadora e à prefeita de Natal e aos prefeitos da Grande Natal, não entendo como a questão do turismo que é básico para a cidade, não entendo como os Governos não se sentam para isso, não conversam. É prefeitura para um lado e Governo para outro, quando é coisa vital para o Rio Grande do Norte.

Falta amadurecimento desses gestores?
Não. Acho que falta decisão política. Veja a questão da dengue. Por que o Estado não se une a Prefeitura para combater juntos? Não é só Natal. Não é só São Gonçalo, Parnamirim. Haveria um momento de problema comum, estratégia comum, dividir parcela de recursos e se unir. O trânsito em Natal avança, em Parnamirim também, avança em São Gonçalo e não vejo ação conjunta, vejo ação isolada. A questão de qualificação de mão de obra poderia ser feita conjuntamente. Por que as pessoas não se sentam? E eu sei da boa vontade da governadora Rosalba. Ela teria a maior disponibilidade para isso. A prefeita Micarla está aí, lutando com muitas dificuldades.