Beatificação vai ser importante para obras de Irmã Dulce, diz sobrinha


Obra de religiosa se transformou em um dos principais centros do SUS.
Cerimônia de beatificação será realizada neste domingo (22), em Salvador.
Religiosa dedicou vida ao acolhimento de pobres e

Em cada canto, há uma história para contar. A cada paciente e morador, o reflexo da bondade e caridade de voluntários e funcionários que trabalham a serviço das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), em Salvador.

O empreendimento foi criado por Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, a partir de um terreno onde funcionava um galinheiro, que virou o complexo que abriga deficientes físicos e mentais, idosos, crianças e doentes. Atualmente, é o maior centro de saúde gratuito do país.
Fruto de um trabalho persistente de Irmã Dulce, também chamada de Anjo Bom da Bahia, e seus "discípulos", a OSID tem a missão de manter os serviços de qualidade prestados à comunidade carente.
saiba mais
Diariamente, cerca de cinco mil pessoas frequentam a instituição, que conta com mais de 200 voluntários.
“Eu sempre digo que a grande marca de Irmã Dulce é exatamente a caridade. Mas por trás disso aí há uma figura com tamanha obstinação, extremamente empreendedora, que rompeu com uma série de obstáculos, sempre em nome dos menos favorecidos”, relata o museólogo Osvaldo Gouveia, responsável pelo Memorial Irmã Dulce.
Tinha muita gente na porta do hospital, mas ainda assim ela me viu e me chamou. A partir desse momento nunca mais faltou nada na minha vida. Tudo o que sou hoje eu devo a Irmã Dulce"
Marlene Teles
O empreendedorismo de Irmã Dulce, citado por Gouveia, evidencia-se no complexo iniciado e estruturado pela freira baiana e seus colaboradores.
Compõem o espaço que beneficia milhares de baianos o Hospital Santo Antônio, Hospital da Criança, Centro Geriátrico Júlia Magalhães, Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências, Centro de Atendimento e Tratamento de Alcoolistas, Centro de Reabilitação de Anomalias Crânio Faciais, Ambulatório de Fisioterapia, Clínica da Mulher, Unidade de Coleta e Transfusão de Sangue, Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), Laboratório de Análises Clínicas e o Centro de Bio Imagem.
'Tenha fé, continuo presente'
A frase espalhada por todos os cantos das Obras Sociais Irmã Dulce, acompanhada de uma foto da freira baiana, confirma um dos maiores feitos da Santa dos Pobres: o atendimento de qualidade e a multiplicação dos pacientes e internos que são atendidos no complexo criado em 1949.
“Atendemos a população carente e fazemos exames de alta complexidade. A gente tem serviços que o SUS não remunera muito bem e precisamos de doações para ter o mínimo de equilíbrio para honrar com os compromissos no final do mês”, conta Maria Rita Pontes, sobrinha de Irmã Dulce e diretora da OSID desde 1992.
Vendas de souvenir aumentaram mais de 200%
(Foto: Danutta Rodrigues)
A pedido da tia, Maria Rita assumiu a direção das Obras Sociais e, para ela, a beatificação, que acontece neste domingo (22), vai trazer muitos benefícios para o local.
“A beatificação vai ser muito importante para todos nós, para toda equipe de profissionais, além de aumentar as doações que mantêm as obras”, contou.

O mercado de souvenires também foi beneficiado. De acordo com George Silva, atendente da loja de produtos relacionados à feira baiana, as vendas aumentaram mais de 200%. “Os produtos mais procurados são as camisas com a imagem de Irmã Dulce, pois as pessoas querem ir à missa de beatificação vestidas com ela”, conta o vendedor, que faz parte da OSID há 12 anos.
Relatos de afeto e amor
Iraci Lordelo, 76, é uma das primeiras voluntárias das Obras Sociais Irmã Dulce. O olhar alegre e as ações de caridade que pratica há mais de 50 anos cumprem a missão ensinada pelo Anjo Bom da Bahia: a de amar ao próximo. “Nunca vi um amor como o que Irmã Dulce tinha pelos indigentes. Porque a pessoa deve ter bastante amor e sem ele a gente não adquire nada na vida. Ela tinha uma caridade imensa”, emociona-se Iraci.
Assim como a voluntária, Edna dos Santos, 50, iniciou a trajetória nas Obras Sociais aos 22 anos e atualmente cuida de 12 moradores do Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências, CRPD. “Eu não seria essa pessoa que sou hoje se eu não tivesse conhecido Irmã Dulce. Eu vi o trabalho dela com os moradores e esses meninos eram tudo pra ela”, orgulha-se Edna. “Irmã Dulce que dava carinho para eles e nós estamos dando continuidade a esse amor que ela cultivou. Nós levamos eles para a horta, para passear e principalmente damos muito amor e atenção. É um trabalho muito bonito. Temos oficina de reciclagem, informática, aulas de capoeira. É um trabalho que Irmã Dulce sempre quis”, conta Ruth Santos Moreira, 55, que também atua no CRPD como cuidadora.
O relato da coordenadora de higienização Marlene Teles, 56, traduz o sentimento de muitas pessoas que foram assistidas por Irmã Dulce. Moradora de rua, certa vez, Marlene decidiu procurar o Anjo Bom da Bahia e diz que viu sua vida modificar para sempre. “Tinha muita gente na porta do hospital, mas ainda assim ela me viu e me chamou. A partir desse momento, nunca mais faltou nada na minha vida. Eu comecei a trabalhar como servente aos 17 anos e hoje sou encarregada da higienização. O que ela fez por nós em vida agora ela está recebendo com a beatificação. Tudo o que sou hoje eu devo a Irmã Dulce”, conclui Marlene.
Programação
Segundo a organização do evento, os portões serão abertos ao meio-dia de domingo. Programada para começar às 14h, a cerimônia de beatificação será aberta com a exibição do espetáculo Nasce uma Flor, apresentação que irá contar, em forma de dança, música e teatro, alguns momentos da trajetória de vida de Irmã Dulce.